A cinza sabe-me a solidão. Empoleirado na varanda, pasmo, absorvido pelos quotidianos alheios, o cheiro do dia comum já não me é estranho.
Está um dia normal, um tempo normal, com nuvens normais e sol normal a espreitar normalmente entre elas. Apesar da normalidade, sinto-me anormalmente escondido na varanda, frio como se uma daquelas nuvens normais tivesse atravessado o meu corpo. Eu contra o Mundo, normal.
O fumo tresanda a abandono. Outrora teria sido parte do dia normalmente nublado, com uma rotina normalmente arquitectada às minhas necessidades normais. Agora não, estou desajeitado, aparentemente. Quero apenas sair desta normal pasmaceira, que alguém dela me tire, que alguém venha directo à minha aorta e a encha de heroína, talvez me faça saltar. Saltar normalmente.
Nem sinto a queimadura, só um ligeiro cheiro a carne queimada. A última tentativa de, sozinho, me recriar. De, sozinho, me erguer e saltar. Não saltei, fiquei apenas a olhar para a ponta incandescente e a marca nas costas da mão. Não deu, não dá. Largo-a, ficando a olhar para a corrida até ao chão entre o fogo e a água. Nada normal.
1 comentário:
há muito que não te comento, vejo que a qualidade dos textos tem aumentado. bom de ler, daniel
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