A correr, a correr, a correr na escuridão de uma floresta tão densa, tão densa, que sei que é dia lá fora mas o sol não passa pelas copas.
Um grão, outro grão, mais um grão de areia a atravessar uma qualquer ampulheta sádica do sádico que aqui me pôs, numa floresta de incertezas em que a única certeza são as árvores, os troncos grandes e imóveis e imortais e castanhos? Devem ser, mas não os vejo - quem me dera ser um tronco destes.
Uma gota, duas gotas, uma gota de novo. Uma gota de chuva na minha testa, que se divide no nariz, e que se chora cruzando a minha cara até se (re)unir no queixo. Duas lágrimas que não são minhas, porque já nem disso sou capaz - a floresta é muda, morta e escura, e como se não chegasse é rude e não responde aos meus gritos. Perdi literalmente os sentidos, até àquela primeira gota, e à segunda. E às que se seguiram.
E não, não vi o céu, não vi nuvens nem sol. Mas quando ela se estilhaçou na minha testa soube que não as tinha sonhado, que não eram uma fantasia de uma criaturinha de floresta. Ouvi-as a cair em mim e senti a frescura de estar vivo de novo. Uma gota, duas gotas, outras tantas no meu corpo. Lágrimas, agora acho que são lágrimas, a correr com as gotas pela bochecha abaixo.
Pego num ramo, e noutro ramo, e subo e corro pela árvore acima, sempre com gotas, vivas de chuva, a molhar-me o cabelo e a barba. Uma gota, outra gota, mais uma gota a inundar uma qualquer ampulheta sádica. E mais um ramo.
E chego ao topo. Onde uma nuvem, solitária, sob um Sol ou uma Lua (que já nem os sei distinguir), chora em mim. E não há tempo a perder - é a minha nuvem. Por isso salto para ela. Quem não prefere ser chuva a ser um tronco?
26.05.2014