Ontem sonhei que ardias. Laranja ao relento de uma noite bela, típica; via os meus olhos reflectidos nas chamas e doía-me o sorriso de tão assumidamente mau.
Tenho de te confessar, ontem sonhei que te queimava. Como quem não quer a coisa, enquanto te acendia um cigarro, levo um isqueiro à tua fronte, simulação de desequilíbrio, e queimo-te. Foste ardendo por seres tão inflamável, ou por te querer tão ardido até à cinza, sei lá. Vi com prazer a tua pele tostar e estalar, vi-te derreter, vi-te derramado por aí, vi-te brilhante por todo tu teres sido substituído por novo-tu, mas na tua rápida recuperação ficaste ainda mais falso que antes, tanto que agora todos verão quem és de verdade. Vi com prazer que me vinguei: vinguei-me de teres tão vilmente estado em mim, de me teres inflamado como eu te inflamei a ti, de todo eu ser falsa pele por todo o meu dentro, porque onde outrora estiveram alojadas as minhas vísceras tu soltaste aranhas devoradoras de entranhas. Elas roeram-me, quer as entranhas, quer a alma, encheram-me de lã de insecto. Eu também sou pele nova de falso-eu, mal cicatrizado: mal cicatrizado em tudo, no coração, no cérebro; cicatrizado nos ossos e nos músculos, no estômago e no intestino, por todo o lado, até no sexo. Todo tu me cicatrizaste e tuas putas de tuas aranhas comedoras de mim, e brilham meus olhos cicatrizados e todas as outras cicatrizes do meu corpo enquanto tu ardes à nossa frente, todas brilham vendo-te arder. Tuas aranhas não controlaram a gula, e comeram minh'alma e consciência: consolaram-se, e dessas cicatrizes me orgulho: os octópodes morreram envenenados, e tu ardes em agonia, morrendo agora também. Rio para a Lua e ela ri de volta, maquiavélica como nunca foi.
Acordo
.
.
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Afinal não ardeste, nem tão pouco morreste. Nem as tuas aranhas, que me continuam a comer. Ainda me prendem as entranhas e o espírito.
Espero que ardas rápido. Espero que te doa.
Tenho de te confessar, ontem sonhei que te queimava. Como quem não quer a coisa, enquanto te acendia um cigarro, levo um isqueiro à tua fronte, simulação de desequilíbrio, e queimo-te. Foste ardendo por seres tão inflamável, ou por te querer tão ardido até à cinza, sei lá. Vi com prazer a tua pele tostar e estalar, vi-te derreter, vi-te derramado por aí, vi-te brilhante por todo tu teres sido substituído por novo-tu, mas na tua rápida recuperação ficaste ainda mais falso que antes, tanto que agora todos verão quem és de verdade. Vi com prazer que me vinguei: vinguei-me de teres tão vilmente estado em mim, de me teres inflamado como eu te inflamei a ti, de todo eu ser falsa pele por todo o meu dentro, porque onde outrora estiveram alojadas as minhas vísceras tu soltaste aranhas devoradoras de entranhas. Elas roeram-me, quer as entranhas, quer a alma, encheram-me de lã de insecto. Eu também sou pele nova de falso-eu, mal cicatrizado: mal cicatrizado em tudo, no coração, no cérebro; cicatrizado nos ossos e nos músculos, no estômago e no intestino, por todo o lado, até no sexo. Todo tu me cicatrizaste e tuas putas de tuas aranhas comedoras de mim, e brilham meus olhos cicatrizados e todas as outras cicatrizes do meu corpo enquanto tu ardes à nossa frente, todas brilham vendo-te arder. Tuas aranhas não controlaram a gula, e comeram minh'alma e consciência: consolaram-se, e dessas cicatrizes me orgulho: os octópodes morreram envenenados, e tu ardes em agonia, morrendo agora também. Rio para a Lua e ela ri de volta, maquiavélica como nunca foi.
Acordo
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Afinal não ardeste, nem tão pouco morreste. Nem as tuas aranhas, que me continuam a comer. Ainda me prendem as entranhas e o espírito.
Espero que ardas rápido. Espero que te doa.
18-07-2010 dedicado sabem os deuses a quem