Ouço a madeira velha à minha volta
O tédio escala pelo meu ser
Por vezes atento a uma palavra solta
Mas meus olhos abertos não estão a ver
Neste ambiente pantanoso
Sonho descaradamente
Enquanto o tempo, vagaroso
Se vai arrastando pela gente
E enquanto lá no centro
Se gritam obscenidades
Meu espírito, cá dentro
Vagueia por inúmeras cidades
Interessado e atento
A ténues particularidades
Desfilam pessoas, casas e cores;
Revejo faces, actos e dores;
Seja em campos repletos de flores
Ou enquanto assisto a horrores
Até que chega Cronos, descontente
Com a minha desatenção permanente
E com uma cacetada potente
Mostra-me que toda a gente
Abandona o lugar para que outro se sente.
(sonhos)