Nasce o Velho, aprende a ser Velho. Na sua existência macilenta notam-se as marcas de outrora: da sabedoria e do fracasso, do riso, do choro e da dúvida - múltiplas cicatrizes interligadas, sulcando a face do Velho.
O Velho não é o mais Velho numa geração de cinco, mas entre os seus irmãos não há percurso tão longo ou tortuoso. Nas suas sandálias poeirentas e erodidas escondem-se percursos e vidas, do passado em que o Velho avançava confiante através de tundras ou desertos, montanhas ou sonhos.
No entanto, os seus irmãos não o ouvem. Dizem preferir tentar percorrer os seus próprios percursos, encerrar as suas histórias nos rostos, prender as suas existências. No entanto, são as histórias do Velho que tatuam nos corpos carnudos.
No seu trono, o Velho observa, de olhar rapino atrás do nariz altivo. As suas cicatrizes brilham, numa estranha onomatopeia de vermelho-sangue contrastante com a tez macilenta na sua face. Ao seu redor, os irmãos fitam as lajes poeirentas do chão. Retalharam-se criminosamente, e é sangrando que todos, um por um, pedem ao Velho o seu perdão e indulgência. Afinal, os seus caminhos não eram mais do que réplicas dos do Velho, afinal deveriam ter seguido os seus próprios caminhos, aprender pelos erros do Velho.
O Velho não se mostra piedoso, abandonando os irmãos enquanto se ri cinicamente. Neste seu percurso, acaba de rasgar novamente a pele da face. No fim, apenas o sangue flui. E Velho e irmãos seguem os seus percursos, odiando-se.