Talvez seja eu. Talvez não. Decisões são algo cada vez mais difícil de tomar, cada vez mais propensas a evasões por quem as deveria tomar. Talvez seja uma das razões da decadência da sociedade actual. Ou talvez uma consequência. Ou talvez ambas.
O facto é triste - cada vez mais tomamos menos decisões, e quando as tomamos favorecem os
NOSSOS (exclusivamente) interesses - talvez devêssemos ter evoluído de forma a passar a pensar globalmente, já que agora fazemos tudo globalmente. Se em tempos caçávamos para a pequena comunidade de que fazíamos parte [também pensando, claro, na nossa subsistência individual] , evoluindo até ir para a guerra pela glória do país a que pertencíamos [também pensando na glória, ou saque, ou no "bem" que estaríamos a fazer como indivíduo], talvez agora as nossas decisões se devessem basear mais na noção de globalidade que deveríamos ter. Não estou a dizer que devemos negligenciar os interesses particulares e subjectivos para dar lugar a uma geração de pessoas que vivem para agradar aos outros. Considero tal visão completamente suicida. Mas, no entanto, acho que devíamos ter mais em consideração o impacto das nossas [cada vez menos] decisões na vida dos outros. Por exemplo, um médico, ao ser confrontado com a hipótese de trabalhar nalgum remoto país assolado por guerras civis, deverá por em primeiro lugar o imapcto que a sua vida AÍ nas populações locais, do que o impacto que se faria sentir no AQUI, com saudades por parte da família ou amigos, e talvez algumas mudanças de rotina para estes, e um possível abandono de uma maneira de viver. Mas talvez estes sejam apenas casos raros. Talvez esta capacidade de pôr as necessidades do MUNDO à frente das nossas seja de tal forma rara [e apreciada], que os que a têm são especiais, e como tal revestem-se de um brilhinho de heróis. E enquanto esta vivência heróica for reconhecida como uma raridade, vamos continuar sem tomar decisões, esperando que eles resolvam todos os problemas e questionínculas. Enquanto não percebermos que também conseguimos ser heróis, que também conseguimos brilhar, olharemos para uma maioria absolutamente ataráxica, e como massa acrítica que nos tornámos, cruzaremos os braços. Ou então, mudamos um pouco, e viramos heróis.Só é preciso tomar uma decisão. . .