27.6.07


"Quando me sentarei ao sol
Despido
Líquen vivendo


Da inclinação dos ramos?"

Daniel Faria



TALVEZ

Talvez seja eu. Talvez não. Decisões são algo cada vez mais difícil de tomar, cada vez mais propensas a evasões por quem as deveria tomar. Talvez seja uma das razões da decadência da sociedade actual. Ou talvez uma consequência. Ou talvez ambas.

O facto é triste - cada vez mais tomamos menos decisões, e quando as tomamos favorecem os NOSSOS (exclusivamente) interesses - talvez devêssemos ter evoluído de forma a passar a pensar globalmente, já que agora fazemos tudo globalmente.

Se em tempos caçávamos para a pequena comunidade de que fazíamos parte [também pensando, claro, na nossa subsistência individual] , evoluindo até ir para a guerra pela glória do país a que pertencíamos [também pensando na glória, ou saque, ou no "bem" que estaríamos a fazer como indivíduo], talvez agora as nossas decisões se devessem basear mais na noção de globalidade que deveríamos ter. Não estou a dizer que devemos negligenciar os interesses particulares e subjectivos para dar lugar a uma geração de pessoas que vivem para agradar aos outros. Considero tal visão completamente suicida. Mas, no entanto, acho que devíamos ter mais em consideração o impacto das nossas [cada vez menos] decisões na vida dos outros.

Por exemplo, um médico, ao ser confrontado com a hipótese de trabalhar nalgum remoto país assolado por guerras civis, deverá por em primeiro lugar o imapcto que a sua vida AÍ nas populações locais, do que o impacto que se faria sentir no AQUI, com saudades por parte da família ou amigos, e talvez algumas mudanças de rotina para estes, e um possível abandono de uma maneira de viver.

Mas talvez estes sejam apenas casos raros. Talvez esta capacidade de pôr as necessidades do MUNDO à frente das nossas seja de tal forma rara [e apreciada], que os que a têm são especiais, e como tal revestem-se de um brilhinho de heróis. E enquanto esta vivência heróica for reconhecida como uma raridade, vamos continuar sem tomar decisões, esperando que eles resolvam todos os problemas e questionínculas. Enquanto não percebermos que também conseguimos ser heróis, que também conseguimos brilhar, olharemos para uma maioria absolutamente ataráxica, e como massa acrítica que nos tornámos, cruzaremos os braços. Ou então, mudamos um pouco, e viramos heróis.

Só é preciso tomar uma decisão. . .